sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Mordida de bicho cabeludo




Leitura de "Dalton Trevisan". Ele disse. É pico na veia. É overdose de realidade. Sua Literatura não é pra ler assim, de qualquer jeito. Irresponsável. Sua literatura é uma sublime e lívida porrada na cara. Você geme, e quer mais.

A escrita desse Curitibano desgracido tem uma espécie de humanismo próprio, nu e cru. Não espere uma metamorfose do eterno clichê de falar da realidade do homem, exaltando ou punindo seus defeitos e virtudes. O humano mau e o humano vítima, o lobo e o cordeiro, o tenro e o velho, o nobre e o vagabundo, uns mais e outros menos. Em Dalton, ninguém é mais do que é, e ponto.

Enquanto você pensa em maldade, Dalton fala de desejo, enquanto você tem pena, o personagem tem prazer. Isso no começo, depois você se identifica, e, mesmo que não admita, sabe, isso é o importante.

Vejo alguém lendo Dalton:

“Perdoe a indiscrição, querida, Vai deixar o recheio do sonho para as formigas?, Ó você permite, minha flor, Deixe só um pouquinho...”

“Ai, benzinho você é mau.”

“Faz miséria comigo...”

“Ai, Ai, eu morro.”

“Mais, amor, mais...”

Primeiro uma expressão estranha, ruborizada, depois, um sorriso de cumplicidade.

Seus personagens: Nelsinho, Elisa, Odete, Bêbados, Vampiros, a vovó, a titia, quem são? São você leitor. Cada gemido é seu. A sombra que se esgueira no beco escuro e sórdido pensando nos sete beijos da paixão, o elefante que se despede lentamente ao pé duma árvore da periferia de Curitiba.

O sangue da flor perdida escorre das páginas e pinga nos teus pés. O suor dos amantes exala seu cheiro nas páginas. Os gritos e gemidos lhe arrepiam e você olha em volta com medo de que alguém próximo esteja ouvindo, emanados das próprias páginas, ou de sua boca que lendo as pronuncia sem perceber, em voz alta.

“Não escrevo para mudar a vida, melhorar o mundo ou salvar minha alma. Um papel coberto de palavras vale mais que o papel em branco? é toda a minha desculpa de escrever.”

Pronto, nas palavras dele.... Nada Mais. Se exprime a condição bruta do ser humano? Se revela as suas excentricidades? Se critica, constrói, devasta? Isso importa?

“Você grita 24 horas e desmaia feliz”

Isso é Dalton Trevisan.

Jr.

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