Boi Gigante
“Convidei os companhero
pra fazê uma matutage
garrotinho de dois ano
dois ano de dismamado
turrava no fundo da larga
e convidava a cidade
garrotinho de dois ano
faltava morrê assombrado
O chifre desse boi
Mandei pru Rio de Conta
Boto cabo em mil facão
Mil e seicentas faca de ponta
Se você num tive creando
O ferreiro é que le conta
A língua desse boi
Mandei fazê um assado
Uns morreu de caganêra
Ôtos de barriga inchada
Vão disculpano, minha gente
Qu’inda ficô língua assada
Dos casco desse boi
Mandei fazê um pilão
Pra pisá canjica
Para o povo do sertão
E as garrinha que fico
Deu duas mão de pilão
O ispinhaço desse boi
Mandei fazê uma ponte
Uma ponte para um rio
Um espeio para um sobrado
E no buraco do tutano
Passava um vapô folgado[2]
O fígado desse boi
Fizero um friquité
Comeu trezentos home
Duzentos e cinqüenta muié
Cento e cinqüenta cachorro
Inda sobrô friquité
O tutano desse boi
Botaro pá derretê
Deu pá engordurá todo o feijão
Da microregião de Irecê
E fico tão gorduroso
Que ninguém pôde cumê
O coro desse boi
Fizero logo um surrão
Que deu pá botá todo o arroz
Do estado do Maranhão
O fato desse boi
Dismancharo pá sabão
Deu pá abastecê dois estado
Ciará e Maranhão
E cinco arôba que fico
Foi pras muié lavá as mão
O mocotó desse boi
Fizero a mocotozada
Deu pá cume todo mundo
Dali daquelas berada
Uns morreu de caganera
Otos de barriga inchada
E aqueles que não morrero
Dissero: oh, comida gorda danada
O rabo desse boi
Foi o que rendeu mais pôco
Fizero oito mil rédea
E um cabresto p’um cabôco
E o que mais me admirô
[2] Chico de Naninha ,que nos forneceu essa primeira parte do poema, o aprendeu por volta dos anos 40 ao ouvir o seu avô Bilau Moreno, Ladislau Pereira Machado, recitar para os netos. Seu Chico chegou a atribuir a autoria do poema a Bilau. Bilau (1870-1956) foi o fundador da Formosa, casou-se com Bertina, era agricultor e sua família fabricava tachos, gamelas e colheres de pau, entre outras coisas do gênero.
[3] Essa segunda parte do poema foi recolhida com Sirino, que os aprendeu quando criança, nos anos 70, com Faburino Rocha. Celito se recorda que ele afirmava que os versos não eram dele, mas a estrofes que fala da região de Irecê provavelmente se trata de uma recriação sua.
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